terça-feira, 24 de agosto de 2010

O avião não explodiu e eu dormi maravilhosamente

Passa-se alguma coisa. Os meus temores em Panjin talvez nao fossem tão despropositados. Cheguei à estação de Delhi às 5.30am (22-08) e enfiei-me rapidamente num rickshaw pré-pago para o aeroporto. Tempestades e inundações em Delhi eram as últimas noticias da net... não dava para pensar em fazer turismo na cidade mesmo que ainda sobrassem 22h para o voo de regresso (às 2.30am de 23-08)!

Não me queriam deixar entrar no aeroporto - era demasiado cedo, que fosse para um hotel até às 20-21h!

E eu tresnoitada das 10 horas de sleeper, a precisar de mudar de roupa e comer qualquer coisa... sem rupias (só cartões)... sem espirito de aventura...

Depois de vários percalços lá consegui entrar na área dos visitantes.

Militares de metralhadora. Por todo o lado. Funcionarios de walk-e-talkies e identificação ao pescoço por todo o lado. O exército parecia ter-se estabelecido no aeroporto. Mais funcionários e militares do que clientes. Alguns "ninjas". Assim durante todo o dia. Só pude aceder à zona da partida às 21.30h. Tudo hiper-controlado.

O avião não explodiu e eu dormi maravilhosamente acordando praticamente em Bruxelas. Aí novamente uma seca - 10 h de espera. É o que faz comprar bilhetes baratos! Comigo trouxe sempre "os paninhos" descobertos em Pushkar. Podia-se perder a mala nos meandros do aeroporto indiano - o essencial estava comigo.

Cheguei! Estou a casa. Correu tudo tão bem! A minha organização funcionou como devia e o grande golpe foi ter reservado todos os bilhetes de sleeper em Delhi à chegada. Facilitou bastante.

sábado, 21 de agosto de 2010

Agora é a contagem decrescente e a única preocupação que as chuvas dificultem a chegada



Uma nuvem assentou arraiais em cima de Pushkar. Chove desalmadamente desde ontem à noite. Desta vez, às 4h - vou de táxi para Ajmer. É muita chuva para enfrentar três transportes diferentes - rickshaw-camioneta do estado-rickshaw. O táxi fica por Rs350/13km (cerca de 5 euros). É demasiado tentador para quem vai estar mais de 24 horas em viagem.

Mesmo assim não consigo ficar no hotel à espera. Tinha de levantar dinheiro, comprar lembranças e vir a uma net mais baratinha do que no hotel. Já me sinto em casa aqui e as ruas inundadas não me assustam. Os rickshaws de bicicleta estão por aí todos activos a navegar por estes novos lagos e a salvar os turistas.

Por isso, lancei-me à vida. Grande gabardina rosa! vai ser útil até ao último minuto e depois fica cá - é muito pesada e tenho outra em Lisboa.

Agora é contagem decrescente e a única preocupação é que as chuvas dificultem a chegada do comboio a Delhi, ou do táxi ao aeroporto, ou do avião a Bruxelas, ou do outro avião a Lisboa onde deveria estar às 7pm de dia 23. No ano passado o atraso de 7 horas em Delhi tornou a volta especialmente acidentada (tive de dormir no Bahrein) e cara (perdi a ligação Londres-Lisboa e tive de comprar outro bilhete). Espero que desta vez seja tudo mais monótono.

Será que encontro a Ana em Delhi no aeroporto? Ela também volta do ashram dia 23. Dava jeito ter dois dedos de conversa pois chego a Delhi às 6am de dia 22 e o avião parte (deverá partir se Deus quiser) às 2.30am do dia seguinte 23-08. Muita hora para ler e deambular. Mas a segurança exige que não chegue em cima do acontecimento. Ossos do ofício!

A propósito, no Rajastão, a partir de 1 de Agosto, os sacos de plástico tornaram-se ilegais. Os lojistas agora fornecem sacos de tecido (parecem de seda). Finalmente estão a tomar a sério a questão da poluição com plásticos. A natureza neste país é tão esplendorosa que confesso que até cheguei a sentir laivos de rancor, uma vez por outra, quando via os indianos deitarem para o chão os plásticos usados. É um grave problema e a Natureza tem os seus limites.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Vou jantar e tentar dormir em cima dos remorsos!

Fogo! eu não gosto de fazer compras e consigo passar indiferente na maior parte dos locais de comércio. Mas quando calha (raramente) gostar muito de uma coisa - torna-se obsessão e perigo. Comprei dois paninhos bordados. Podiam estar num museu. E um livro de reproduções de peças antigas e novas indianas com um design espectacular. Podia ter sido eu a faze-lo!

Vou direitinha para o hotel porque levei quatro horas na conversa com o vendedor. Sabia explicar toda a simbologia infiltrada nos trapinhos. Sabia vender. Já é quase noite. Vou jantar e tentar dormir em cima dos remorsos de ter gasto dinheiro comigo quando a viajem já é um grande privilégio e a multa do reboque do carro não vai ser doce.

Vou jantar e tentar dormir em cima dos remorsos!

Sabem alguma penitência que não doa muito?

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Nunca me perdi de forma tão eficaz como desta vez com o mapa na mão


Hoje bem cedo pus-me a caminho do templo de Savitri que fica num extremo do lago, numa elevação que parece ter uma excelente vista. De mapa detalhado em punho.

Nunca me perdi de forma tão eficaz como desta vez com o mapa na mão. Certo, não está à escala e falta muita informação. Mas, caramba, assim que desliguei a intuição e liguei a dedução foi ainda pior.

Tropecei por acaso com o templo de Brahma que fica no caminho do de Savitri. Muito antes do que estava à espera. Também, seria incontornável pois uma quantidade enorme de peregrinos e devotos vestidos de tons de laranja migravam todos naquela direcção. Devia haver uma cerimonia especial. Chovia. Chove. Por isso estou aqui a estas 10 horas da matina. A circular desde as 7 da manhã já esgotei as alternativas abrigadas: sentada a comer tostas com manteiga; sentada a beber um sumo; sentada a beber um lassi de manga; na loja a comprar umas calças (as outras romperam-se); na loja a ver jóias de prata tradicionais; no rickshaw de bicicleta a caminho da senhora que vende jornais em inglês no seu pátio das traseiras,... e só ai, e... quando há. Não havia! - só chega às 11h).

Acho que vou optar pela alternativa semi-motorizada: dar umas voltas de cicle-rickshaw. Porque: Pushkar é uma terra hindu muito sagrada, logo tem muitas vacas, logo há muitas bostas que com esta chuvinha derretem e tornam difícil e perigoso levantar os olhos do chão ou abrir a boca (por causa das moscas).

E o pessoal aqui, excepto para rezar, começa a trabalhar tarde - pelas 10 horas a maior parte do circo ainda está empacotado. A noite deve ser estridente, mas a minha vocação solitária e incompetência orientadora não aconselham saídas nocturnas.

As noites e os anoiteceres são geralmente passados no restaurante do terraço do hotel. Costumam ser espaços animados e interessantes. Em Hampi, os da casa tinham um canto deles, forrado a colchões e mesas baixas, com televisão na frente, onde passavam as horas mortas. Às vezes, de manhã punham um CD de mantras. Excelente.

Neste daqui têm apenas mesas e uma televisão de plasma enorme. Ontem como era a única inquilina prescindi dos meus direitos de ver magníficos programas de televisão europeia por cabo (com anúncios de venda explicita de sexo - que caiem ainda pior aqui na Índia) e assisti às aventuras de um Tarzan hindu que se sacrificava e sofria cativeiro para salvar a sua Jane. O seu amor total era retribuído sob a forma de canções que esta entoava com voz aguda e que comoviam as entranhas. Mau foi quando um pé mal colocado provoca a queda e a morde da artista. Aí, liberto das correntes emocionais que o mantinham cativo, e com apenas um retesar dos poderosos músculos do peito, o nosso herói rebenta também as correntes de ferro que o atam. E os bandidos saltam pelo ar, um a um, arremetidos em todas as direcções pela fúria vingadora e desesperada do colosso de tanga.

Todos (eu o cozinheiro e o ajudante) pulávamos nas nossas cadeiras nos momentos mais dramáticos - em uníssono. Depois fui para a cama ler.

Parou de chover. Será que o jornal já chegou?

"Brahma dropped a lotus flower on earth and Pushkar floated to the surface...




Pushkar. "Brahma dropped a lotus flower on earth and Pushkar floated to the surface... A magical desert-edged place, with one of the few Brahma Temples. Rows of sacred gahts from a mystically magnetic lake where hundreds oh milky coloured temples and weather-touched domes sit beneath a shifting pale grey sky... pious pilgrins who are intoxicated by God and Bhang (marijuana)... The town clusters around Pushkar lake." (LP)


A descrição do LP esta perfeita. Um anel de montanhas envolve a cidade e o lago em torno do qual se aninha. As ruas, ou circulam em torno do lago ou vão lá dar directamente. Isso, sem que o seu desenho perca o ondear característico de uma cultura que não aposta muito nas linhas rectas. Azul. É azul como Chefchawen em Marrocos. E rosa. Não tem a estridência habitual das cores indianas.

Chove. E quando chove é uma delicia. As pessoas recolhem-se, desaparecem. E eu circulo. A cidade é minha. Ou quase. Ou é isso que eu sinto. Não é a chuva tropical de Hampi ou de Goa. É uma chuva mais tímida de quem reconhece que está à beira do deserto. Mas molha quem não anda com guarda chuva e remete os lojistas intervenientes que me abordam a cada passo - "where are you from? Comme in! Just to look!"- e envia-os directamente para dentro das suas lojas, onde reclinados em almofadas no chão ficam pacificamente a ver a chuva cair. E as montras são minhas. E apetece-me entrar nas lojas porque ninguém me assedia com conversa repetitiva.

De manhã muito cedo também funciona porque ainda estão um bocadinho a dormir.


Tenho 3 dias para deambular e fazer algumas compras - se me apetecer. Preciso de percorrer muitas vezes as ruas principais e as ruas próximo do hotel para me apropriar do sítio. A minha memória... Depois começo a sentir-me em casa com sítios preferidos para petiscar, ler o jornal, ir à net. E começo a alargar o circulo e a fazer incursões nas redondezas. Nao me é fácil criar um mapa mental dos lugares.

Hoje comi arroz frito com vegetais. Aqui ninguém usa ovos. São estritamenmte vegetarianos. Estava tão bom! O cozinheiro, novinho (está a aprender), ficou todo contente quando lhe disse que estava delicioso. Como a cozinha é mesmo junto à esplanada no terraço e não está muita gente no hotel passou-me pela cabeca pedir-lhe para me ensinar a receita. Mas não tive coragem. E o chá de manga é uma delícia.

Encontrei uma livraria e comprei um colar de turquesas. Confirmei o horário de retorno a casa no dia 23 - tarefa difícil. Estou na recta final e sinto-me óptima.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Cheguei à "Casa Branca"




10 horas num sleeper só para mim. Ninguém. O comboio parava em todas as estacões. Eu disse TODAS. O único senão era que em todas as estacões entravam pessoas a pedir.

Dá-se uma, dá-se duas... e depois pensa-se na vida. O que me valeu foi que só parava dois minutinhos na maior parte delas. A certa altura achei por bem refugiar-me com armas e bagagens no beliche de cima - de mais difícil acesso - ninguém aguenta muito tempo a pedir em bicos de pés e braço para cima.

Mas para lá da brincadeira, não sei muito bem como agir nestas situações.

Não dei canetas nem dinheiro aos miúdos de Hampi, mas tenho a certeza de que as fotografias (cerca de 50) que mandei lhes deu uma enorme alegria. E é uma troca justa.

Quando resolvi descer lá de cima, finalmente, a paisagem tropical tinha mudado. Uma planície imensa estendia-se a perder de vista, com uma vaga promessa de montanha lá para perto da linha do horizonte. Os rios, sem água ou transformados nas poças lamacentas que recordava da viagem do ano passado, voltavam a marcar o território.

Por vezes, durante quilómetros, junto aquilo que seriam as linhas de água viam-se covas rectangulares, fundas, com pequenas torres de terra no centro. Parecia que pespontavam o terreno. Pareciam, também, uma sucessão de shiva lingham moldados na terra para melhor reter a água das chuvas (e quem sabe, abençoar o terreno). Ao princípio pensei que poderia ser um acaso da natureza. Mas a repetição ad infinitum da mesma forma...

Aos poucos entramos numa zona de xistos com inúmeras aflorações rochosas no meio das culturas agrícolas. As casas passaram a ser feitas nesse material: pedras de xisto enterradas em cimento, como num baixo relevo - pintadas de cores claras, branco, azul, tijolo claro, e com muitas buganvílias - o que dava à paisagem um certo ar marroquino. Estávamos perto de Ajmer.

Depois foi em grande velocidade - com a ajuda de um funcionário da estacão que veio em meu socorro (novamente um monte de motoristas a minha volta) - enfiei-me numa outra versão do rickshaw - o rickshaw-autocarro - que por Rs5 me depositou a mim e a outros passageiros na estação de camionetas para Pushkar.

Cheguei à Casa Branca - assim se chama o hotel. Limpo. Branco. Restaurante-esplanada no terraço. Vista. Um banho. Um chá de manga. Torradas. O Hindu. A Net. Cansaço. Hoje levantei-me às 3.30am.

Vou tentar enviar fotos amanhã. Mas não sei se consigo. Em Panjin não consegui fazer o upload apesar de ainda ter 8gigas livres. Não sei porquê. O computador só subiu as fotos de Somnanthpur e depois recusou-se a mais.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Os templos jainistas são do melhor que vi na Índia



http://www.esamskriti.com/photo-detail/Dilwara-Temples.aspx

Direcção da Foto-galeria dos templos na net (imagens realizadas nos anos20) - MB!



Os templos jainistas são, como previa, do melhor que vi na Índia. Mas infelizmente não se pode fotografar. Terei de comprar livros porque aquilo exige uma explicação detalhada. Parece filigrana simbólica bordada sem repetições no mais fino fio de... mármore. E o local dos templos... a toda a volta avistam-se picos de montanhas. Só por isto valeu a pena esta paragem em Mte Abu.

No entanto, foi duro ali chegar. Cometi o grave erro de me inscrever numa visita guiada de camioneta para "ver as vistas de Mte Abu". Dado que o terreno é montanhoso e eu não tenho tempo nem competência para fazer um reconhecimento, mesmo rápido, pareceu uma boa ideia. Mas era em hindu. Eu era a única de fala inglesa... Em hindu e muiiito alto, com longas explicações sublinhadas por gestos dramáticos. Para ver tudo menos o que eu queria: a paisagem e os templos jainas.

Safei-me, in extremis, a meio da viagem quando pararam para almoçar perto do meu hotel.

E arranjei um motorista no hotel que me levou sozinha até aos templos, finalmente. Missão cumprida.

Amanhã saio daqui às 4:30am. Tenho comboio às 6am. Vou descer devagarinho até à estação. Talvez amanheça no caminho.

Às 3:30pm estou em Ajmer e "se Deus quiser", às 4pm em Pushkar.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

A minha imaginação a mil projectou uma explosão comemorativa do comboio onde eu estaria a viajar



26 horas de comboio Panjin-Abu Road. Desde as 11.30 até ao anoitecer pareceu uma viagem pelas terras de Hades. As montanhas que atravessamos pela base através dos túneis faziam com que cada breve instante em que emergíamos na luz do dia do vale fosse um momento glorioso. Impossível ler. Só música.

E eu como que hiberno - não tenho fome, nem sede, nem vontade de ir a lado nenhum, nem me aborreço. Mas de manhã o território era outro, e dava para ler. John Le Carré. É o meu autor-fétiche de vigem. E o jornal "O Hindu".

Ler o jornal aqui na índia manteve-se um dos meus passatempos favoritos. E é uma brisa de ar fresco em relação aos jornais portugueses. Os aldeões de uma vila queixam-se ao governo do ataque dos elefantes - e exigem medidas; a população de outra aldeia está assustada com a pantera que foi vista a circular pelas imediações; um tipo patusco que se especializou em apanhar cobras caçou uma jibóia de 3 metros; o governo do Kerala estabeleceu que as multas dos automobilistas vão ser pagas por estes em trabalho social a plantar árvores que lhes serão fornecidas; e o P. Krugman ESCREVE NESTE JORNAL! os artigos são interessantes - para além destas curiosidades. São bem escritos e dão-me uma perspectiva mais intima da sociedade indiana.

Gostei de Panjin. Goa em geral é mais, ou parece mais organizada e limpa que o resto da Índia por onde passei. Com excepção de Amritsar, no ano passado. Mas falava-se em violência contra turistas em Goa nos jornais. E o comboio na linha de Goa teve uma ameaça de bomba no dia anterior à minha partida. Foi todo revistado e gerou uma grande confusão e atrasos. E por acaso era o mesmo comboio que eu ia apanhar hoje.

Ou seja, não dormi quase nada a pensar se não devia ir antes de camioneta apesar de já ter o bilhete de comboio. Também desapareceram umas centenas de toneladas de explosivos no Rajastão em Junho-Julho. E Kashemira está a ferro e fogo... Ah, e ontem comemorava-se o dia da independência da Índia. A minha imaginação a mil projectou uma explosão comemorativa do comboio onde eu estaria a viajar como represália pela repressão e mortes em J&K. Lindo - era eu acordada às 3 da manhã a dar voltas na cama para decidir se apanhava o comboio ou apanhava uma estucha de camioneta - onde não se pode andar de pé numa viajem de 26 horas!

A viajem foi pacífica com uma chegada bastante molhada a Abu Road. Não ouvi falar em explosões comemorativas de nada. E Mte Abu é uma estância de montanha que pela estrada acima parece muito bonita. O hotel é simpático. Vou ficar só hoje e amanhã. Parto na madrugada de 18 para a última etapa deste périplo - Pushkar.

Se tiver sorte e não chover vou a pé até ao templo jainista que é fabuloso. Mas a paisagem da montanha não lhe fica a trás e tem um mercado com lojas interessantes. O dono do hotel (gerência familiar) transmite uma sensação paternalista de protecção que dá algum conforto.

As mulheres aqui usam jóias de prata e tecidos de saris lindos - que se calhar também se encontram nas lojas... E há cavalos para alugar, mas essa foi uma competência que perdi há muito tempo - porque seria uma forma esplendida de visitar o local.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Até eu consigo não me perder demasiado nestas ruas



O Afonso Guest House foi uma grande aposta. perdi Rs300 (4 ou 5 euros) porque saí quando já tinha pago a noite de sábado, mas valeu. Arrumado, limpíssimo, simpático, com terraço com excelente vista, pequeno almoço, e mais barato. Está-se bem a ler, quando chove, lá em cima no terraço coberto.

Hoje vou deambular por aí à procura de livros. Até eu consigo não me perder demasiado nestas ruas - tem paralelas e perpendiculares! Mas fundamentalmente vou-me preparar para 22h de viagem de comboio. Próxima paragem: Mte Abu e os templos jainistas.

Não me apetece ir a Velha Goa. Se chove e apanho uma molha mais vale estar perto do hotel. O tempo está quente mas não demasiado (porque chove desde o final da tarde até de manhã). Dá para andar por ai, devagarinho.

E vou almoçar ao Viva Panjin. Ontem foram camarões à não sei quê. Hoje "chiken..." recomendada pelo LP.

Reparei que o desfasamento horário faz com que esta mensagem apareça como enviada 6ª feira, 13 - mas aqui são 9:30h de sábado, 14 de Agosto.

Amanhã é o dia da Independência da Índia. Todos os rios vão correr livres porque todas as represas serão abertas. Lindíssima ideia. Em Hampi, as águas do rio vão subir e submergir durante uns dias todos os templos e grutas que visitei de barco.

Um sentimento de ordem, de "deja vu", de familiaridade - diverso do que se tem no resto da Índia



Na varanda do hotel em Hampi

Panjin, em Goa. O hotel não é dos mais simpáticos. O casal que supostamente recebia os hospedes como se fossem família - deve estar farto da família. Estou a pensar mudar para outro ali mesmo ao lado. Perco algum dinheiro, mas se chover e tiver de ficar no hotel, mais vale que seja simpático - o novo chama-se Afonso Guest House!!

Hampi ficou para trás... As noites na varanda ou no terraço faziam me lembrar Monte-Gordo da minha infância - noites calmas, mornas, com uma brisa; a vós das crianças a brincar na rua e dos adultos a conversar à porta; as luzes espalhadas pela aldeia... E de manhã, o som do galo fazia-me retornar as manhãs de Setembro no monte da Preguicinha onde a minha mãe nasceu e eu passava quinze dias de férias...

Ficou para trás.

O comboio atravessou uma cordilheira montanhosa. Atravessou pontes e quedas de água vertiginosas. Eu estava longe da janela, infelizmente. Montanhas, palmeiras vistas de cima, atravessadas pelo topo; neblina; chuva à chegada a Margão.

Um sentimento de ordem, de "deja vu", de familiaridade - diverso do que se tem no resto da Índia. É a cultura portuguesa e europeia em geral que deixou uma marca bem funda.

Estou num net café a tentar fazer o upload das fotografias atrasadas. Enviou apenas as de Somnanthpur e não consigo fazer mais uploads. Sei que tenho 8G disponíveis mas não há maneira de conseguir que elas subam. Se alguém souber esclarecer o que pode ser... Este café tem banda larga e montes de gente a trabalhar.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Ao final do dia, num desses locais junto ao rio, avistam-se grande numero de pavões




A estrada de terra batida corria sobre-elevada e paralela a um braço do rio. De ambos os lados bananeiras a perder de vista, interrompidas, aqui, ali, e ao longe, por enormes pedregulhos de granito moldados pela erosão, ou por filas de palmeiras marcando limites aos terrenos.

Por ali, segundo parece, há ursos cinzentos. E ao final do dia, num desses locais junto ao rio, avistam-se grande número de pavões.

O tempo está perfeito para uma volta como esta - e não se encontram turistas que só emergem aos poucos aí pelas 11 horas - quando a temperatura começa a subir e a luz perde a frescura da manhã.

Palácios reais; banhos da rainha com requintados sistemas de canalização subterrânea e ar condicionado (estamos no sec. XV); pavilhões de casamentos; estábulos para os elefantes reais... esculpidos e cobertos com pinturas de tintas vegetais de que ainda se vêem resquícios...

Mas o mais fantástico è o pavilhão de dança. Aí, as colunas são concebidas para funcionarem como instrumentos musicais - toda a gama de instrumentos musicais - da guitarra, ao gongo, e incluindo toda a escala de notas do dó ao si. Inacreditável. Basta tocar com um stic de madeira, uma moeda ou com os nos dos dedos. Funciona. Cada som é diferente e similar ao do instrumento pretendido. No meio das colunas musicais (lindamente esculpidas com figuras segurando o instrumento musical que a coluna reproduz) a nobreza dançava, resguarda da curiosidade exterior por cortinados presos entre as colunas periféricas.

Os monumentos e templos estão disseminados por uma extensa região que percorremos de motorizada - o que permitiu fundir os espaços cultural e natural numa visão conjunta, analisada e explicada em pormenor.

Nas pausas, experiências novas: sumo de cana de açúcar com limão - acabado de espremer numa prensa ali mesmo na frente (nunca pensei que a cana de açúcar desse tanto sumo); e um delicioso almoço no "Mango Restaurant" construído em volta de uma enorme mangueira, com três desníveis, centrados na árvore, onde estavam colocadas as mesas baixinhas com vista para o rio. Comida deliciosa servida em folha de palmeira.
E ao fim de algum tempo, muitos turistas a dizerem "delicious", "hum, esta bueno" e por aí fora.

Para lá chegar tem de se ir a pé nos últimos 100 metros por caminho de terra batida sobreelevado que atravessa uma plantação de bananeiras.

Devia ter descoberto isto tudo mais cedo.

Amanhã de madrugada vou para Panjin de comboio. Chego às 14h a Margão e depois tenho de apanhar o que houver - comboio ou autocarro - para Panjin (+ 1 h).

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Afinal Krishna não tem um rickshaw



Afinal Krishna não tem um rickshaw. Veio acompanhado por um outro condutor com veículo. Mas, dois guias é um pouco excessivo para quem vai apenas deambular pelas aldeias e campos de cana de açúcar, arroz e banana. Fiquei-me pelo rickshaw. Mas ficou também combinado para amanhã uma visita guiada à cidade imperial... de moto. Não tem rickshaw, mas tem moto.

Para quem não sabe, Krishna é, na mitologia hindu, a oitava reincarnação de um dos deuses da sua trindade sagrada - Vixnu ("The Preserver")- e veio ao mundo para salvar a humanidade. E, "it is believed that Krishna was born without a sexual union, by "mental transmission" from the mind of Vasudeva into the womb of Devaki" (Wikipedia). Foi ele o condutor do carro de guerra do príncipe Arjuna nas batalhas descritas ao longo do monumental poema épico Mahabharatha (que eu vi mil vezes na versão de 6 horas do filme realizado pelo Peter Brook - tenho o DVD, claro).

Aí está a graça da situação.

Mas hoje, com outro condutor que não Krishna, o percurso foi fabuloso. Porque ao contrário do que eu estava à espera, os aldeões não fugiam, nem se escondiam. Pelo contrário. Abriam um enorme sorriso e aproximavam-se. Em pouco tempo tinha as crianças de cada aldeia por onde passei à minha volta, a arrastarem os adultos e a pedirem para serem fotografados. E o que queriam em troca? Apenas ver a sua imagem na janela da máquina. E rebentavam a rir.

Prometi-lhes imprimir as fotos e faze-las chegar à aldeia. Mas para cumprir a promessa vou ter de ir esta tarde a Hospet porque aqui não há onde fazer esse serviço.

Continuando. De caminho, fui visitar uma "fábrica" muito, muito artesanal de açúcar. Os adultos tiveram a mesma reacção bem disposta com as fotografias. Ah, e os trabalhadores dos arrozais, também. O condutor do rickhaw, que deve conhecer bem o pessoal aqui à volta, ria. E trazia mais um ou dois para serem fotografados.

Este povo daqui possui uma ingenuidade, candura e coração aberto que ainda não tinha encontrado. Vou ter de ir mesmo a Hospet.