


Hoje bem cedo pus-me a caminho do templo de Savitri que fica num extremo do lago, numa elevação que parece ter uma excelente vista. De mapa detalhado em punho.
Nunca me perdi de forma tão eficaz como desta vez com o mapa na mão. Certo, não está à escala e falta muita informação. Mas, caramba, assim que desliguei a intuição e liguei a dedução foi ainda pior.
Tropecei por acaso com o templo de Brahma que fica no caminho do de Savitri. Muito antes do que estava à espera. Também, seria incontornável pois uma quantidade enorme de peregrinos e devotos vestidos de tons de laranja migravam todos naquela direcção. Devia haver uma cerimonia especial. Chovia. Chove. Por isso estou aqui a estas 10 horas da matina. A circular desde as 7 da manhã já esgotei as alternativas abrigadas: sentada a comer tostas com manteiga; sentada a beber um sumo; sentada a beber um lassi de manga; na loja a comprar umas calças (as outras romperam-se); na loja a ver jóias de prata tradicionais; no rickshaw de bicicleta a caminho da senhora que vende jornais em inglês no seu pátio das traseiras,... e só ai, e... quando há. Não havia! - só chega às 11h).
Acho que vou optar pela alternativa semi-motorizada: dar umas voltas de cicle-rickshaw. Porque: Pushkar é uma terra hindu muito sagrada, logo tem muitas vacas, logo há muitas bostas que com esta chuvinha derretem e tornam difícil e perigoso levantar os olhos do chão ou abrir a boca (por causa das moscas).
E o pessoal aqui, excepto para rezar, começa a trabalhar tarde - pelas 10 horas a maior parte do circo ainda está empacotado. A noite deve ser estridente, mas a minha vocação solitária e incompetência orientadora não aconselham saídas nocturnas.
As noites e os anoiteceres são geralmente passados no restaurante do terraço do hotel. Costumam ser espaços animados e interessantes. Em Hampi, os da casa tinham um canto deles, forrado a colchões e mesas baixas, com televisão na frente, onde passavam as horas mortas. Às vezes, de manhã punham um CD de mantras. Excelente.
Neste daqui têm apenas mesas e uma televisão de plasma enorme. Ontem como era a única inquilina prescindi dos meus direitos de ver magníficos programas de televisão europeia por cabo (com anúncios de venda explicita de sexo - que caiem ainda pior aqui na Índia) e assisti às aventuras de um Tarzan hindu que se sacrificava e sofria cativeiro para salvar a sua Jane. O seu amor total era retribuído sob a forma de canções que esta entoava com voz aguda e que comoviam as entranhas. Mau foi quando um pé mal colocado provoca a queda e a morde da artista. Aí, liberto das correntes emocionais que o mantinham cativo, e com apenas um retesar dos poderosos músculos do peito, o nosso herói rebenta também as correntes de ferro que o atam. E os bandidos saltam pelo ar, um a um, arremetidos em todas as direcções pela fúria vingadora e desesperada do colosso de tanga.
Todos (eu o cozinheiro e o ajudante) pulávamos nas nossas cadeiras nos momentos mais dramáticos - em uníssono. Depois fui para a cama ler.
Parou de chover. Será que o jornal já chegou?
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