Bom, a verdade é que detestei Mysore. Independentemente de haver coisas interessantes e que valeram a pena. O caos aparente, a poluição, o barulho, o lixo ( a Índia tem um enorme problema com o lixo), a falta de simpatia e de apoio no hotel, a sistemática desinformação nos locais adequados (de compra de bilhetes de transporte) e a pressão dos rickshaws para adquirirem direitos de serviço exclusivo e cobrarem o dobro da taxa normal... tudo isso deu cabo da minha paciência.
No último dia, na porta do hotel, 10 condutores de rickshaw à minha volta discutiam quem tinha direito a "roubar-me" desta vez. Dei meia volta, e para espanto deles todos enfiei-me noutro rickshaw que ia por ali a passar (e me levou menos 1|3 do preço habitual).
Queria sair dali o mais rápido possível. Para Hampi só havia um autocarro à noite -12 horas de viajem - dos normais sem qualquer luxo - aqueles mesmo sardinhas de lata. Comboio - eram 24 horas com 9h de espera numa estacão qualquer. Nada de "private bus" ou "super de luxe bus".
No guichet, a funcionaria mal encarada reservou-me um lugar na traseira do autocarro. Vi a minha vida a andar para trás. A Cristina tinha-me avisado para "nunca" ir para esses lugares. Há um problema de "eve teasing" aqui na Índia. Por isso há filas nos guichés e muitas vezes lugares reservados para mulheres. E eu nas traseiras de um "ordinary bus" à noite durante 12horas...
As minhas perspectivas eram as piores: disposta a não ferrar olho, e armada com os alfinetes de fraldas que as mulheres usam as vezes aqui para se defenderem. E, pior ainda, quando percebi que apesar de eu ter o lugar reservado nas traseiras, por cima da roda de trás, a maior parte dos lugares da frente não estavam reservados, pois as pessoas entravam, sentavam-se onde queriam, e pagavam o bilhete directamente ao "picas".
As minhas pernas, definitivamente, não cabiam onde era suposto caberem. A mala teve de ficar lá à frente ao pé do condutor por que não havia o mínimo espaço debaixo dos pés e do assento - e se fosse no porão daquela camioneta, não iria sobrar nada no fim desta viagem. Seja o que Deus quiser! - o que for soará!
Para meu espanto, a camioneta continuou a encher-se mesmo depois de todos os lugares sentados estarem ocupados. Surreal. Tinha uma janela e podia gerir a entrada de ar - único luxo. Acomodei as minhas almofadas diversas, enfiei um lenço fino a cobrir-me toda, e escolhi com cuidado a banda sonora que ia ter de contrabalançar todos aqueles inconvenientes - para começar o "Requiem" de Mozart, pelo Jordi Savalas, cantado pela Monserrat Figueras - a mulher dele.
Duas ou três mulheres que entraram na camioneta fizeram-me relaxar um pouco - e o que é um facto é que a viajem correu de forma agradável. Cheguei ao fim sem grandes mazelas, sem o corpo a doer, apesar das estradas cheias de crateras que constantemente obrigavam a camioneta a parar e arregaçar as saias para as enfrentar.
Amanheci em Hospet. Imediatamente senti que ia gostar muito do lugar. Fica a 10km de Hampi. Tomei um rickshaw para o hotel. Pelo caminho vinha pensando nesta mais-valia fantástica que tenho, e sempre foi útil em viagens-aventura - o meu corpo adapta-se sem grande sofrimento, e adormeço com a maior facilidade sempre que existe uma janela de oportunidade. Ajuda bastante a manter o tónus vital.
O tempo está excelente - fresco e ensolarado e o lugar é simplesmente fantástico. Pelo caminho, bem cedo, parelhas de vacas brancas com os longos cornos pintados de azul claro, às vezes de amarelo ou vermelho; muros e portas grafitados com pinturas faziam lembrar as paredes de Azilah (Marrocos) - numa versão mais popular; casas com cores garridas; e sobretudo, menos confusão, menos lixo, menos poluição - um outro ritmo de vida muito mais lento.
Ah! e a paisagem natural - ingrediente fundamental dos cenários idílicos: enormes torrões de pedra definem formas estranhas no topo dos montes não muito altos; bananeiras; terrenos cultivados; riachos. E bicicletas, bastantes.
O hotel (Rs350 ou seja, cerca de 5 euros) é pintado com cores garridas - amarelo vivo, roxo, lilás, azul claro. Tem um terraço com restaurante aberto e vista espectacular a toda a volta. E tem internet café - onde infelizmente não permitem fazer uploads das imagens. Tenho de encontrar um lugar par as enviar.
Apetece-me ficar aqui uns dias.
Bem podias fazer um filme baseado nestas aventuras! Cineastas apresentem-se! Bjs
ResponderEliminarOlá boa noite! Ai já deve ser quase dia.
ResponderEliminarA temperatura aí é capaz de estar melhor que aqui.
Fui a uma esplanada mas escorria-me o suor pelas costas e viémos embora logo que acabei de beber um granizado bem bom
Está um céu pesado e muito calor.
Saíste na altura certa.
E continuo a saborear a tua viagem sem bilhete...
Bjs
Isabel