
26 horas de comboio Panjin-Abu Road. Desde as 11.30 até ao anoitecer pareceu uma viagem pelas terras de Hades. As montanhas que atravessamos pela base através dos túneis faziam com que cada breve instante em que emergíamos na luz do dia do vale fosse um momento glorioso. Impossível ler. Só música.
E eu como que hiberno - não tenho fome, nem sede, nem vontade de ir a lado nenhum, nem me aborreço. Mas de manhã o território era outro, e dava para ler. John Le Carré. É o meu autor-fétiche de vigem. E o jornal "O Hindu".
Ler o jornal aqui na índia manteve-se um dos meus passatempos favoritos. E é uma brisa de ar fresco em relação aos jornais portugueses. Os aldeões de uma vila queixam-se ao governo do ataque dos elefantes - e exigem medidas; a população de outra aldeia está assustada com a pantera que foi vista a circular pelas imediações; um tipo patusco que se especializou em apanhar cobras caçou uma jibóia de 3 metros; o governo do Kerala estabeleceu que as multas dos automobilistas vão ser pagas por estes em trabalho social a plantar árvores que lhes serão fornecidas; e o P. Krugman ESCREVE NESTE JORNAL! os artigos são interessantes - para além destas curiosidades. São bem escritos e dão-me uma perspectiva mais intima da sociedade indiana.
Gostei de Panjin. Goa em geral é mais, ou parece mais organizada e limpa que o resto da Índia por onde passei. Com excepção de Amritsar, no ano passado. Mas falava-se em violência contra turistas em Goa nos jornais. E o comboio na linha de Goa teve uma ameaça de bomba no dia anterior à minha partida. Foi todo revistado e gerou uma grande confusão e atrasos. E por acaso era o mesmo comboio que eu ia apanhar hoje.
Ou seja, não dormi quase nada a pensar se não devia ir antes de camioneta apesar de já ter o bilhete de comboio. Também desapareceram umas centenas de toneladas de explosivos no Rajastão em Junho-Julho. E Kashemira está a ferro e fogo... Ah, e ontem comemorava-se o dia da independência da Índia. A minha imaginação a mil projectou uma explosão comemorativa do comboio onde eu estaria a viajar como represália pela repressão e mortes em J&K. Lindo - era eu acordada às 3 da manhã a dar voltas na cama para decidir se apanhava o comboio ou apanhava uma estucha de camioneta - onde não se pode andar de pé numa viajem de 26 horas!
A viajem foi pacífica com uma chegada bastante molhada a Abu Road. Não ouvi falar em explosões comemorativas de nada. E Mte Abu é uma estância de montanha que pela estrada acima parece muito bonita. O hotel é simpático. Vou ficar só hoje e amanhã. Parto na madrugada de 18 para a última etapa deste périplo - Pushkar.
Se tiver sorte e não chover vou a pé até ao templo jainista que é fabuloso. Mas a paisagem da montanha não lhe fica a trás e tem um mercado com lojas interessantes. O dono do hotel (gerência familiar) transmite uma sensação paternalista de protecção que dá algum conforto.
As mulheres aqui usam jóias de prata e tecidos de saris lindos - que se calhar também se encontram nas lojas... E há cavalos para alugar, mas essa foi uma competência que perdi há muito tempo - porque seria uma forma esplendida de visitar o local.
Continuas a desenhar imagens excelentes nesta tua escrita! Bjs
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